Sei que este título, “Doutrina errada, vida errada”, pode parecer chocante. Mas a verdade é que não se pode esconder as suas crenças das suas práticas. Alguém pode, até, pregar uma coisa e viver outra durante algum tempo. Mas não é possível enganar todo mundo o tempo todo. Em algum momento, as suas crenças vão se manifestar em ações.
É sobre isso que vamos aprender com o texto de Paulo aos colossenses, mais especificamente no segundo capítulo, dos versículos 6 a 23.
A conexão deste trecho do capítulo 2, com tudo o que foi escrito, anteriormente, no capítulo 1, está nos versículos 9 ao 12 do capítulo 1. 
Nesse texto, Paulo descreve as suas intenções, depois de elogiá-los quanto aos frutos que eles demonstravam pelo fato de terem recebido o bom ensino de Epafras. No entanto, havia ainda muitas coisas a serem corrigidas no pensamento deles e na prática.
Por isso, ali no início, Paulo coloca alguns termos-chave como:

• ⁹ “Sejais cheios do conhecimento, sabedoria e entendimento espiritual.”
• ¹⁰ “Viver de maneira digna, agradando ao Senhor, frutificando e crescendo no conhecimento.”
• ¹¹ “Fortalecidos, ter perseverança e paciência.”
• ¹² “Dando graças porque o Pai já os capacitou a participar da herança.”

Agora, Paulo começa, por assim dizer, a ensinar os colossenses de maneira direta. Era preciso corrigir algumas práticas ruins que eles tinham, ou seja, Paulo começa a ensinar as implicações do evangelho.

Ter vida correta é andar em Cristo

“Portanto, assim como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, também andai nele,
arraigados e edificados nele e confirmados na fé, como fostes ensinados, sempre cheios de ações de graças.” (Colossenses 2.6-7)

A vida com Cristo não é teórica, como uma verdade que se abraça e se usa, apenas, como argumento filosófico para se fazer a defesa em debates. Embora a posição de estar com Cristo também produza argumentos filosóficos, o propósito de receber a Cristo produz vida, vida verdadeira, vida correta. Por isso, Paulo exorta os colossenses dizendo que deviam ANDAR NELE…
Andar no caminho do evangelho é ter segurança. Andar no caminho de Cristo é ter o descanso de quem encontrou a verdade, é fechar as portas para outras possibilidades de explicação do mundo e suas vãs filosofias.
Mas não devemos apenas andar. Paulo enfatiza essa questão dizendo que devemos também estar ARRAIGADOS E ALICERÇADOS NELE…
No versículo 7, Paulo usa diversos termos: Arraigar que quer dizer criar raízes, assim como uma árvore. Edificar que é construir algo sobre um bom alicerce. Por “confirmados na fé“, Paulo está dizendo que a demonstração destes atributos confirma a fé deles. O fato de estarmos arraigados e edificados mostra em nossas obras a fé que temos. É bom lembrarmos que esta Igreja foi bem ensinada: “como fostes ensinados…“. Epafras foi elogiado por Paulo pelo ensino que trouxera à Colossos.
Que conclusão podemos tirar disso? Que só podemos ser confirmados na fé se ouvirmos a verdadeira mensagem, se fomos ensinados corretamente sobre o evangelho. Se for assim, a nossa prática mostrará em quem cremos e nossos atos provarão que, de fato, cremos corretamente.

Ter vida correta é buscar conhecimento para não ser enganado

“Tende cuidado para que ninguém vos tome por presa, por meio de filosofias e sutilezas vazias, segundo a tradição dos homens, conforme os espíritos elementares do mundo, e não de acordo com Cristo;” (Colossenses 2.8)

Quando diz “tome por presa“, no versículo 8, a linguagem de Paulo já denuncia o seu pensamento sobre os enganos que envolviam esta igreja.
O predador costuma armar emboscadas para tomar as ovelhas do rebanho. Quando começam se dar conta, muitas ovelhas já foram tomadas pelo engano.
O versículo 8 também nos mostra que a mensagem do Evangelho traça uma linha clara, mas tênue. Precisamos caminhar nessa linha sem nos desviar do que Cristo nos propõe.
Como em Colossos havia uma série de desvios de doutrina, isso os fazia viver de modo errado.  As filosofias que Paulo cita, aqui, não se referem a ciência do exercício do pensamento, o exercício filosófico; até porque, de certo modo, nós usamos de filosofia para compreender o próprio evangelho, se pensarmos no termo puro. Mas o que Paulo condena são as diversas explicações da vida, que divergem do evangelho e levam à uma vida errada.
Aliás adotemos esta máxima:

“Doutrina errada, vida errada”.

Quem crê errado, vive errado. Não é possível abraçar as sutilezas que deturpam o Evangelho. São sutilezas, mas que, afinal, comprometem toda a mensagem. Uma gota de veneno numa caixa d’água tira a pureza de toda a água.
Quando Paulo diz “segundo a tradição dos homens” está se referindo ao judaísmo que era o pano de fundo das heresias praticadas pelos colossenses. O legalismo imperava, como mostram outras cartas do apóstolo Paulo às Igrejas do Novo Testamento. A tradição dos homens leva ao controle de homens, à aprovação de homens, o que, na realidade, é fruto da vaidade. As tradições dos homens distorcem a verdade de Deus.
Os colossenses cultuavam os anjos, é o que Paulo está trazendo à tona, ao mencionar “conforme espíritos elementares do mundo“. Justamente, as cerimônias religiosas, é que devem ser praticadas conforme Cristo ordena e não conforme a mente humana. A questão, aqui, era uma profanação das cerimônias religiosas.
Isso fica mais evidente nos próximos versículos porque Paulo vai abordar o sentido da circuncisão. Ou seja, Paulo vai ter que explicar aquilo que é mais elementar. Ele quer trazer a mente da Igreja de Colossos para o entendimento correto dos símbolos que foram deixados como testemunho da obra de Cristo no Antigo Testamento e, consequentemente, na história.

“pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade,
e nele, a cabeça de todo principado e poder, tendes a vossa plenitude.” (Colossenses 2.9-10)

No versículo 9 vemos que toda a autoridade e o cumprimento de todas coisas ocorreu no corpo e na carne de Cristo.
No versículo 10 constatamos que Cristo exerce autoridade sobre todas realidades de poder existentes na terra. Jesus Cristo tem poder e autoridade sobre tudo. Mesmo os reis, mesmo os anjos, mesmo as filosofias, tudo está debaixo da autoridade de Cristo. O texto diz que Jesus é A CABEÇA de todo principado e poder.
Aqui, Paulo quer combater a ideia do “culto aos anjos” que eles insistiam em fazer. Faziam isso como se a obra de Cristo não fosse completamente perfeita. Paulo, então, reafirma a autoridade de Cristo como o cabeça de tudo.
Quando Paulo fala que nele habita, corporalmente, ele quer enfatizar a verdade que há em Cristo para a nossa realidade existencial. Não é invenção, ou mera história, mas é verdade sobre todas as coisas.

Ter vida correta é entender corretamente os símbolos, fugindo do legalismo

“Nele também fostes circuncidados com a circuncisão que não é feita por mãos humanas, os despojar da carne pecaminosa, isto é, a circuncisão de Cristo,” (Colossenses 2.11)

Esta citação da circuncisão está aqui por conta do falso ensino legalista dos judaizantes. Os falsos apóstolos estavam colocando, mais uma vez, a circuncisão como condição para serem recebidos no Reino.
A circuncisão foi dada a Abraão como símbolo de entrada na Aliança. Todos os que recebiam o símbolo estavam dentro do pacto que Deus fez com Abraão.
A vinda de Cristo vem anular a circuncisão, de modo que a obra de Cristo se opõe a ela. Ou entramos no Reino por Cristo, ou não entramos mais. A circuncisão nunca teve o poder de colocar alguém na Aliança, mas era símbolo de uma condição prévia. Era um símbolo obrigatório, sim, pois Deus queria distinguir o seu povo diante dos outros povos. Mas aqueles que obrigavam a circuncisão estavam desconsiderando ou no mínimo diminuindo a obra que Cristo realizara.
Paulo, então, começa a esclarecer como a circuncisão aponta para Cristo e o versículo 11 mostra isso claramente.
Aqui é feita uma séria distinção entre a circuncisão de Abraão (ou de Moisés, se preferirem) e a circuncisão de Cristo. Cristo, espiritualmente, circuncida o nosso coração, tirando a nossa carne podre e nos dando uma nova vida, um novo coração sadio. É isso que simboliza a circuncisão. É um ritual sangrento, onde, pelo derramar do sangue, a carne pecaminosa é arrancada e jogada fora. Cristo faz isso conosco, através do derramar do Seu sangue Ele joga fora a nossa carne pecaminosa. O nosso pecado é morto na cruz.

“sepultados com ele no batismo, com quem também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.”  (Colossenses 2.12)

Devemos nos lembrar que Paulo estava argumentando contra os judaizantes. Quando Ele diz que fomos sepultados no batismo, ele afirma que existe, agora, uma nova administração desta dispensação. Aquela velha condição foi sepultada com Cristo.
Ora, Jesus foi circuncidado e também batizado. Ele cumpriu os dois rituais. E quando Jesus foi sepultado e ressuscitado, inaugurou uma nova ordem, um novo símbolo, uma nova demonstração da obra que foi feita. Este novo símbolo é o batismo. O batismo, então, é o símbolo que representa a nossa morte e ressurreição em Cristo. É a representação visível e física de tudo o que foi purificado interiormente.

“E a vós, quando ainda estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos pecados;” (Colossenses 2.13)

Esta obra os tirou da morte, visto que eram gentios, portanto estavam na incircuncisão. Cristo agora, pula essa etapa da circuncisão e os salva mesmo sem aquele antigo símbolo. Isso porque, Deus usou o evento de Jesus Cristo como meio para perdão de pecados. Por isso que Paulo diz que Deus deu vida a eles, juntamente com Cristo, e que este sacrifício perdoou os seus pecados de maneira perfeita.

“e, apagando a escrita de dívida, que nos era contrária e constava contra nós em seus mandamentos, removeu-a do nosso meio, cravando-a na cruz;” (Colossenses 2.14)

Aquela escrita de dívida foi cravada na cruz, foi paga na conta de Cristo.

“e, tendo despojado os principados e poderes, os expôs em público e na mesma cruz triunfou sobre eles.” (Colossenses 2.15)

Cristo tomou, roubou, arrancou os principados e poderes e os expôs na cruz. Ele traz aquilo que era realidade espiritual, para a realidade material na cruz. A autoridade espiritual e eterna que Ele tinha a transforma em realidade, a traz para um modo visível na cruz. Jesus Cristo une e traz para si, na cruz, todos os poderes sobre todas as esferas de todos principados e potestades,
Jesus Cristo triunfa sobre eles!!!

Ter vida correta é considerar Cristo como realidade última de todas as coisas

“Assim, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados,
os quais são sombras das coisas que haveriam de vir; mas a realidade é Cristo.” (Colossenses 2.16-17)

Agora, Paulo diz que aqueles que tem o entendimento correto da obra de Cristo não devem ser julgados como devedores dos mandamentos. Tudo o que foi no passado, no Antigo Testamento, é sombra. A nossa consciência não é escrava dessas coisas, mas está totalmente livre em Cristo. Aponta pra Cristo! Cristo é a realidade agora!

“Ninguém seja árbitro contra vós, fingindo humildade ou culto aos anjos, baseando-se em coisas que tenha visto, inutilmente arrogante em seu conhecimento carnal,” (Colossenses 2.18)

Ninguém deve ser juiz dos que confiam somente em Cristo.  A intenção daqueles falsos apóstolos era a de roubar-lhes a alma, a consciência, a paz e, consequentemente, tirar a certeza de salvação, abalando a sua fé.
A humildade deles era aparente, a fidelidade no culto aos anjos era vistosa, mas tudo isso era falso, pois adoravam uma criação da sua mente. Paulo chama isso de conhecimento carnal, inútil, arrogante.

“e não retendo a Cabeça, com a qual todo o corpo, suprido e organizado pelas juntas e ligamentos, vai se desenvolvendo segundo o crescimento concedido por Deus.” (Colossenses 2.19)

Ignoravam a Cristo que é a Cabeça, e é somente pela cabeça que todo o corpo cresce. Somente crendo da maneira certa é que nós vamos crescer de maneira sadia. Isso porque dependemos de Deus para o crescimento. E Deus só atua na verdade, por meio Cristo e do Espírito Santo.

“Visto que morrestes com Cristo para os espíritos elementares do mundo, por que vos sujeitais ainda a mandamentos como se vivêsseis no mundo,
tais como não toques, não proves, não manuseies?” (Colossenses 2.20-21)

Nada que esteja fora de Cristo exerce autoridade sobre nós, que cremos da maneira correta, segundo as Escrituras. Qualquer discurso legalista deve ser rejeitado. Nada tem o poder de orientar a nossa vida.

“Todas essas coisas desaparecerão com o uso, pois são preceitos e doutrinas dos homens.” (Colossenses 2.) 

Tudo o que nasceu do coração humano desaparecerá mas as Palavras e a obra de Cristo nos levam para a eternidade.

“Na verdade, esses mandamentos têm aparência de sabedoria em falsa devoção, falsa humildade e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate aos desejos da carne.” (Colossenses 2.23)

Precisamos de discernimento. Esses mandamentos podem fazer sentido, podem ter aparência de sabedoria, de piedade, podem demonstrar humildade e devoção. Mas são um erro! Como diz o apóstolo, não tem valor algum no combate aos desejos da carne.
Devemos compreender que nada que fizermos para nos livrar do nosso pecado será eficaz. Somente andando no conhecimento correto de Cristo, arraigando e edificando a nossa vida sobre esta verdade é que venceremos, por meio de Cristo, os desejos mais escondidos do nosso coração.

Aplicação

• Creia corretamente.
• Certifique-se, nas Escrituras, onde está a verdade e paute a sua vida por ela.
• Estude a doutrina sadia e verdadeira.
• Descanse no poder de Cristo que cravou, na cruz, toda a nossa dívida. E mais, trouxe, para si, toda a autoridade sobre principados e poderes.
• Abrace a liberdade que somente Cristo dá, através da sua obra.

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