A relação entre o homem e o seu trabalho está sofrendo muitas mudanças.
Em uma agência de entregas nos EUA, dois jovens criaram um espaço em sua empresa para sonecas durante o dia. Assim, os funcionários que se sentirem cansados podem ir até a sala, a qualquer tempo, e tirar um cochilo.
Construíram até um belo aquário. Assim, aqueles que se aconchegam nas poltronas confortáveis, separadas para esse descanso, têm à vista, uma visão relaxante dos peixes nadando, o que ajuda a criar o ambiente perfeito para o descanso.
A justificativa disso é que funcionários rendem mais se estiverem descansados.
Em contrapartida, os funcionários não têm horário de saída. O ambiente criado é para reproduzir algo que os deixe em casa, ou num local que não represente necessariamente um trabalho.
Os espaços de trabalho podem ser totalmente personalizados. Há jogos, brinquedos e videogames, por exemplo. Tudo isso é para que os funcionários se sintam muito bem e, é claro, para que produzam muito mais.
Agora, talvez você esteja se perguntando onde quero chegar com isso.
Bem, apesar de essa empresa parecer a empresa dos sonhos, quero mencionar um lado que me chamou atenção. Creio que essa empresa deseja confundir os funcionários. Deixe-me explicar.
A empresa existe para ganhar dinheiro e isso é justíssimo. Quem me conhece e acompanha meus textos sabe que nem de longe tenho aquela visão socialista que criminaliza os ricos. De fato, minha visão é que quanto mais ricos existirem, melhor será para a vida em sociedade. Haverá mais empregos, mais produção de riquezas, e, consequentemente, menos pobreza.
Como cristão, porém, preciso fazer certas distinções. Precisamos voltar ao princípio.
Deus criou o trabalho, antes mesmo da Queda, para dar propósito ao homem. Fez isso para desenvolver certas coisas que Ele ainda deixou para o homem fazer.
“Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” (Gênesis 2.15)
A partir da Queda, a relação do homem com o trabalho foi muito afetada e até mesmo amaldiçoada por Deus.
“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida.
Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.” (Gênesis 3.17-18)
Então, Deus está dizendo que o homem não terá mais satisfação em nada após o pecado, senão no próprio Deus.
Para isso acontecer, Deus teria que enviar um redentor, alguém que pudesse restaurar a condição de pureza. Essa condição de pureza não poderia acontecer sem que alguém pagasse a pena imposta pelo pecado.
Qualquer meio de forjar uma paz sem a verdadeira paz produzida por uma reconciliação com Deus é uma grande afronta a Deus. É como se disséssemos que é possível viver uma boa vida à parte do Senhor Deus.
É a partir dessa perspectiva que acho que aquela empresa é um grande perigo, pois pode levar as pessoas a idolatrarem o trabalho.
A Bíblia ensina que um ídolo é tudo aquilo que promete dar ao homem o que somente Deus pode dar. Conquistar qualquer coisa sem Deus, pensando que isso pode vir por outro meio, é idolatria. É tratar como um deus algo que não é Deus.
O trabalho foi criado originalmente para trazer propósito à vida do homem, mas depois foi amaldiçoado por Deus. O trabalho é uma bênção dada por Deus, mas nunca nos dará aquilo que somente Deus nos dá.
Um trabalho que tenta tirar o empregado do seu lar, seu lugar de descanso; que tenta tirar o máximo do empregado de modo que o tire de sua família; que busca oferecer paz, conforto, entretenimento, diversão, produzindo a ilusão de que o trabalho pode dar sentido pleno, que é a parte de Deus, é, na verdade, um grande mal.
Não tenho nada contra uma empresa que pensa em seus empregados e lhes dá conforto para trabalharem. A questão é que muitas empresas modernas estão querendo criar uma transcendência no trabalho, ou seja, forjar uma paz impossível.
Deus estabeleceu as coisas de uma forma que jamais teremos plena paz em nosso trabalho, embora possamos ter prazer nele. O trabalho não deve nos dar o que só Deus pode nos dar.
Deus nos dá o exemplo de trabalhar durante seis dias e descansar no sétimo, contemplando a Sua obra. Nós devemos seguir o exemplo que Deus nos deixou. Devemos trabalhar seis dias e no sétimo contemplar a obra de Deus na nossa vida em toda a sua complexidade. Fazemos isso porque sabemos que é nEle que se encontra o sentido de todas as coisas.
A ordem das coisas é fundamental. A grande questão é sabermos que Deus é quem nos dá o nosso trabalho. É essencial sabermos que Deus é o nosso descanso. É importante sabermos que Deus usa o nosso trabalho para nos trazer sustento, para nos ensinar, para nos fazer crescer.
Isso coloca as coisas em sua ordem. O que quero dizer é que o trabalho deve ser visto da perspectiva de Deus, não do trabalho em si.
Conforme o exemplo inicial, o que me parece é que o trabalho se torna um fim em si mesmo. Isso é muito perigoso, porque podemos confundir a razão da nossa existência com aquilo que fazemos. Nós não somos o que fazemos. Temos um valor maior, que se encontra naquilo que Deus nos deu – sermos feitos à imagem e semelhança dEle.
O que fazemos é um grande bônus para a nossa vida.
Não confundamos o que fazemos com o que somos. Lugar de descanso é em seu lar, não na empresa. Saiba que ter paz e satisfação no trabalho é bom, mas isso nunca deve tomar o lugar de Deus. Descanse para contemplar o Senhor Deus.
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