Um coração sábio é o que Moisés pede ao Senhor em seu único salmo registrado no saltério.

“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.” (Salmos 90.12)

Esse versículo é muito conhecido, não é? Estamos acostumados com essas palavras, mas podemos dizer, sem medo de errar, que há um mistério por trás delas. Vamos ver.
O salmo começa com um pedido para que o Senhor nos ensine a contar os nossos dias. Isso não pode ser entendido de forma literal, pois qualquer pessoa alfabetizada tem condições de marcar, em um calendário, os dias que passam, ou de, pelo menos, fazer as contas de sua idade chegando a um número preciso de dias vividos. É certo, então, que Moisés não se refere aqui a uma contagem numérica.
Outra questão é:

Um coração pode ser sábio? É possível um órgão ser sábio?

Também, é certo que Moisés não fala de um órgão que, vez por outra, nos faz visitar o cardiologista. Do que Moisés está falando então?
Esse é outro mistério!
De uma coisa sabemos: que a sabedoria guarda em si algo de misterioso. Vamos agora, então, juntos, procurar desvendar esses mistérios.

Contar os dias

Moisés, ao escrever essas palavras, embora tenha se expressado de forma poética, está certamente pensando em algo concreto.
Antes do versículo doze, Moisés faz referência a alguns atributos de Deus como sua eternidade e onipotência. Porém, ele também cita um atributo que não está muito em moda entre os crentes contemporâneos, que é o da ira de Deus.
Deus está irado com a humanidade e Moisés lida com isso, diretamente, em várias passagens do Antigo Testamento, quando ele se encontra em meio ao fogo cruzado entre a infidelidade do povo e a ira do Deus todo poderoso.

“Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?” (Salmos 90.11)

Depois deste versículo é que vem o objeto da nossa reflexão, o texto de Salmos 90.12, já citado no início no texto. Nele, encontramos o princípio do evangelho que é, justamente, aquela ação que nos salva da ira divina e da destruição.
Portanto, contar os dias é, na verdade, observar o modo como vivemos diante de Deus. Não é viver de maneira inconsequente, alienada, como se estivéssemos apenas de corpo presente. O que Moisés está dizendo é que devemos prestar atenção à nossa vida com Deus. É óbvio que sempre estaremos aquém do desejável, sempre estaremos em falta perante o Todo Poderoso.
Moisés foi o grande legislador do povo escolhido. Ele conhecia a severidade de Deus e a complexidade de procurar seguir os preceitos de Javé.
Foi ele quem intercedeu pelo povo quando, no deserto, esse reclamou da falta de carne; foi ele quem intercedeu quando o povo reclamou de sede, e Deus, então, ordenou que batesse na pedra para que dela saísse água e, assim, matasse a sede do povo. Foi ele quem perdeu o direito de entrar na terra prometida porque esse mesmo povo o atormentou tanto, que o fez bater novamente na pedra, sem que essa fosse a ordem de Deus.
Moisés sabia o significado de contar os dias diante de um Deus irado. É isso que ele está dizendo nesse versículo. É isso que ele quer que entendamos. Se estivermos conscientes de que Deus está olhando para nós, devemos cuidar de nossos passos. Sim, devemos fazê-lo, mas ao mesmo tempo é vital compreendermos que somente um ato de misericórdia desse Deus permitirá que escapemos de Suas mãos.
Moisés reconhece que precisa do próprio Deus para aprender a caminhar de forma que O agrade.

Alcançar coração sábio

Assim como contar os dias é algo concreto, o coração sábio a que Moisés se refere também o é.
As primeiras tábuas da lei que foram quebradas, em Êxodo 32, carregavam um símbolo, uma tipificação de Cristo. Elas simbolizam seu primeiro corpo, corpo de homem, corpo morto e machucado pela maldade humana.
As segundas tábuas simbolizam o corpo ressurreto e glorificado de Cristo.
A primeira pedra em que Moisés bateu no deserto, no texto de Nm 20, também simbolizava Cristo, aquele que é a Água da Vida, aquele que mesmo tendo criado toda a terra e todos os mananciais do mundo sentiu sede na cruz. Por isso Moisés pecou ao bater a segunda vez na pedra, em vez de falar, como ordenado por Deus.
Moisés foi ensinado e aprendeu. Ele conheceu de forma concreta o significado da palavra sabedoria.
Paulo, em Colossenses 2.2-3, nos dá luz sobre este texto:

“… para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo,
em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos.”

O que Paulo nos elucida, aqui, é que Cristo é chamado de “o mistério de Deus” e nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento.
Portanto, sabemos que o máximo que uma pessoa pode chegar em termos de sabedoria nesta vida, é uma compreensão da pessoa e obra de Cristo. Alcançar um coração sábio, então, é adquirir cada vez mais conhecimento da pessoa e obra de Cristo.
Moisés morreu sem conhecer Cristo, mas ele tinha plena confiança que o plano de Deus, o mistério de Deus, se revelaria no tempo oportuno. Ele confiava que Deus daria a salvação perfeita e plena ao seu povo e morreu confiando nessa promessa.
É Cristo quem nos livra das mãos de um Deus irado. Por isso, Romanos 5.1-2 diz:

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo;
por  intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.”

O que significa “temos paz com Deus”?
Nós, os salvos, estávamos debaixo da ira de Deus, mas Deus nos provou o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, quando ainda éramos pecadores.
Jesus Cristo é a sabedoria de Deus. É ele quem faz um coração ser sábio. Ele é o plano perfeito para livrar o homem de sua condição de pecado e separação de Deus. Cristo é a razão para todas as coisas existirem.
Ao lermos novamente o texto de Moisés, temos um entendimento novo do que aquelas palavras significam.

“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.”

Que a nossa oração seja sempre:
“Ó Deus, ensina-nos a viver de modo que honremos ao Senhor através dos méritos de Cristo!”

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