Quem resiste a uma bela frase de coaching que eleve seu ego até as alturas? Se você estiver num dia mais sensível, uma bela frase de coaching às vezes pode vir tão bem a calhar. O coaching parece inofensivo, mas traz grandes perigos para aquele que deseja viver piedosamente.
Gostaria de elencar alguns pontos que julgo importantes.
Antes de mais nada, Deus capacita o homem, através da Sua maravilhosa graça, com muitos dons, justamente para que o homem tenha qualidade de vida. A própria Palavra de Deus reconhece que todo dom perfeito provém do Pai das luzes.
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” (Tiago 1.17)
Portanto, nem tudo o que é produzido pelo homem é ruim. Os avanços científicos, a criação de importantes medicamentos, as descobertas que o fazem viver melhor são bênçãos advindas de Deus para o nosso bem.
No entanto, a linha é muito tênue. Observar as coisas que Deus dá pela Sua graça não nos autoriza a lançar mão delas sem a consciência de que toda dádiva provém de Deus. Isso faz toda a diferença em como Ele vai avaliá-lo no decorrer da sua vida.
“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça;
porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou.
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.” (Romanos 1.18-20)
Essa consciência é fundamental para a saúde do nosso relacionamento com Deus. Deus não é o nosso serviçal, preocupado com o nosso bem-estar apenas; Deus requer toda a glória para Si.
O homem não tem condições de produzir o que só Deus pode produzir.
Precisamos nos lembrar de onde viemos e como a Palavra de Deus nos avalia inicialmente.
“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.” (Efésios 2.1-3)
Aquilo que produzimos inicialmente, digo, antes da regeneração, não serve para nada em termos espirituais. Como somos seres feitos numa unidade indivisível de corpo e alma, o que não agrega espiritualmente também não eleva física ou materialmente.
O coaching não se propõe a ser uma solução espiritual. Pelo que vejo, o coaching sempre é materialista, temporal, sem transcendência. Você deve fazer acontecer pelos seus méritos, confiando no seu potencial, disciplinando-se e coisas desse tipo.
O coaching é ardiloso, porque existem coisas boas em algumas das suas falas. Por exemplo, ele apresenta disciplina, esforço pessoal e coisas assim. Entretanto, a própria Bíblia nos recomenda a disciplina. Veja:
“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso,
considera os seus caminhos e sê sábio.Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado?
Quando te levantarás do teu sono?” (Provérbios 6.6,9)
Perceba que o tom usado pelas Escrituras é um tom de sabedoria na busca de disciplina no trabalho. No entanto, o livro de Provérbios não tem somente esse tom. Orienta que a sabedoria tem o seu início no conhecimento de Deus.
“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria,
e o conhecimento do Santo é prudência.” (Provérbios 9.10)
As Escrituras tratam o homem de maneira completa, não tendo em vista somente a fase terrena e temporal da sua breve vida.
Este é outro grave problema. O coaching acredita que você move o universo quando está disposto, toma uma decisão e se compromete de verdade. O coaching não tem uma consciência coram Deo, isto é, de se estar diante de Deus o tempo todo, sabendo que Ele é quem dirige e governa tudo e que nós vivemos no mundo de Deus, conforme o propósito que Ele estabeleceu.
É certo que não estamos num sistema completamente engessado. Deus nos deu coisas para fazermos e Ele nos dá liberdade para agirmos. Todavia, Deus, de forma às vezes misteriosa, tem tudo em Seu governo, o que chamamos de providência. Deus interfere na História como Lhe apraz, mas ainda assim temos livre agência para agir.
Deus criou certas leis que guiam o nosso viver, tanto de maneira ética quanto de maneira natural.
Por exemplo, temos a lei da gravidade. Ela deve ser respeitada, pois descumpri-la trará sérios danos. Outra lei é a de que sofremos as penas de uma vida que negligencia o trabalho, como mostrei acima.
A nossa vida é norteada por tantas leis, criadas por Deus para este mundo. No entanto, sendo onipotente, Deus pode interferir na História de modo que leve as coisas a acontecerem como Ele deseja.
Já vi engenheiros muito bem formados desempregados e precisando vender churrasquinho na praça para tirar seu sustento. Nem sempre o natural acontece. Onde o cristão busca consolo quando as coisas naturais não acontecem em seu benefício? Certamente, busca resposta e consolo em Deus, sabendo que na sabedoria de Deus há alívio.
O coaching exclui Deus e deseja que o homem seja a melhor versão de si mesmo. (Já ouvi esse slogan em algum lugar…)
Aí está o conflito. Nunca estamos no controle, embora às vezes pareça assim. Perceba que acordamos porque o Senhor nos sustenta.
“Deito-me e pego no sono; acordo, porque o SENHOR me sustenta.” (Salmo 3.5)
“Em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me fazes repousar seguro.” (Salmo 4.8)
Quer desafiar ao extremo um discípulo do coaching? Então, mostre-lhe o Salmo 127.
“Se o SENHOR não edificar a casa,
em vão trabalham os que a edificam […].Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde,
comer o pão que penosamente granjeastes;
aos seus amados ele o dá enquanto dormem.” (Salmo 127.1a-2)
Essa é a consciência que não existe no coaching. Seus adeptos entendem que ele trará uma espécie de redenção ao homem, mas ou é Deus ou é o coaching.
Se o cristão entende que o mundo é criado e governado por Deus, o coaching crê no deísmo. Essa é a tese de que Deus cria, mas não governa; Deus é transcendente, mas não imanente.
Para o cristão, a Queda foi a entrada do pecado no mundo, afetando todas as relações do homem: com si mesmo, com o próximo, com a natureza e com Deus. No coaching, tudo é meio misturado com misticismo. Alguns usam os astros; outros têm uma ideia maniqueísta do mundo; ainda outros culpam apenas a indisciplina pelo fracasso. Existe uma ideia de queda, mas não é a bíblica.
A redenção do cristão está em Deus ter enviado Seu único Filho para Se encarnar, morrer na cruz pelos nossos pecados, ressuscitar dentre os mortos e vencer completamente o pecado que nos afastava de Deus.
No coaching, é o esforço, a disciplina e talvez a convergência dos astros agindo em seu favor que farão com que você alcance o seu sonho nesta vida terrena.
O cristão crê numa vida futura, na consumação dos tempos, quando a História desta terra será encerrada na volta do Senhor Jesus Cristo.
Não vejo qualquer coisa semelhante a isso no coaching, mas apenas a busca por sucesso terreno.
O coaching não quer o seu sucesso. Quer o seu fracasso, pois a vida é transcendente. Qualquer coisa que diminua o homem é uma aberração. O homem tem a eternidade nele; isso faz do homem algo muito maior do que apenas o sucesso desta vida.
“Vi o trabalho que Deus impôs aos filhos dos homens, para com ele os afligir.
Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.” (Eclesiastes 3.10-11)
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