Por causa da pandemia do coronavírus, todos temos sido orientados a evitarmos o contato social para diminuir a possibilidade de contágio. Mas, espera-se que logo, possamos voltar a visitarmos e sermos visitados pelos nossos amigos e parentes.
Quando os nossos amigos nos visitam, qual é a primeira coisa que notam sobre a nossa família, antes mesmo que qualquer coisa seja dita? Na maior parte dos casos, é o aroma.
Será que, ao chegar à sua casa, eles sentem como que se algum bichinho tivesse corrido para debaixo da geladeira e morrido lá? Ou as visitas acham que alguém está preparando um pão, um doce ou algo assim, com um cheirinho bem gostoso?
Eu me lembro que, quando era criança, custei a compreender a diferença entre duas palavras. Para mim elas significavam, praticamente, a mesma coisa. Essas palavras eram casa e lar. Agora, já mais velho, percebo que o significado da segunda, lar, é muito mais complexo do que eu podia imaginar naquela época.
O dicionário Webster, dois séculos atrás, chega, até mesmo, a definir o lar assim:
“Lar – o refúgio sagrado da nossa vida”. (Dicionário Webster – versão de 1828)
Muitos podem viver em uma mesma casa. Já no lar, é onde encontramos uma família.
Mas como assim? O que é família?
Em seu livro “O que é uma família?”, Edith Shaeffer, esposa do famoso teólogo Francis Shaeffer, registrou o que pensa sobre o significado de família. Usando uma forma mais do que poética, Edith Shaeffer descreve a família de diversas maneiras.
Uma delas é como um móbile, aqueles enfeites de madeira, plástico e papel que as pessoas penduram como algo artístico. Ela o define assim:
“Móbiles são peças de esculturas formadas de elementos individuais, feitos de materiais, geralmente leves, suspensos artisticamente por fios, que oscilam ao vento”. (Edith Shaeffer, O que é uma Família)
Ela chama uma reunião de família de “um móbile em movimento; uma forma de arte humana.”
Dentre as várias figuras que Edith emprega, ela descreve a família como um “móbile mais versátil, sempre em movimento, que existe.”
Ela diz:
“A família é um móbile vivo, diferente dos móbiles feitos à mão e dos móbiles em museus de artes. É diferente dos móbiles de lago e árvores e dos móbiles de máquinas, animais ou plantas. A família é um móbile complexo composto por personalidades humanas.” (Edith Shaeffer, O que é uma Família)
Eis ai o nosso problema.
Em tempos de isolamento social e pandemia, esses móbiles parecem estar passando por um vendaval. Você já viu como um móbile fica quando bate um vento forte? As suas peças ficam se chocando, inevitavelmente, umas nas outras. Ao invés de embelezarem o local ou de produzir sons agradáveis, acabam se emaranhando. E, não raro, até quebrando uns aos outros.
Mas você pensa que isso só acontece em uma família? Não. Até mesmo aqueles que vivem sozinhos, podem passar por problemas assim, durante a pandemia. Eu os descreveria como problemas de relacionamento.
Geralmente, mesmo quem mora só, e está em isolamento social durante a pandemia, não está sem contato com o mundo. Certamente ele está conectado à internet e pode ter que responder a um chefe, lidar com um colega de trabalho ou, até mesmo, com um empregado. Talvez até o fato de ele morar sozinho tenha como causa problemas que ele tenha tido nos seus relacionamentos. Para ele, a melhor opção pareceu se isolar.
Nós vivemos momentos difíceis! Até mesmo um simples problema de relacionamento, que, em uma situação normal seria facilmente evitado ou solucionado, durante a pandemia tem se tornado um motivo para brigas no núcleo mais importante da vida: a família.
Durante o vendaval da pandemia, que alterou toda a nossa vida, o que fazer? Como lidar com esse tipo de problema? O que a Bíblia tem a nos dizer sobre como devemos nos relacionar com aqueles que dividem o mesmo teto conosco?
Quero que você saiba que o meu objetivo é que você compreenda o que significa viver à luz do evangelho de Cristo. Mais ainda. É convencê-lo a colocar este ensino em prática na sua vida. Você pode, até, achá-lo meio fora de prumo. Mas, na verdade, veremos que é, apenas, com o devido conhecimento daquilo que Cristo fez por nós, que podemos nos relacionar da maneira correta, quer seja durante a pandemia ou fora dela.
Para isso examinaremos alguns textos que se encontram em Efésios.
O livro de Efésios é mais uma daquelas cartas escritas pelo apóstolo Paulo. É uma carta especial, a sua estrutura é muito rica e bem elaborada.
Ao lê-la você notará que Paulo a divide em duas partes:
O pastor Alistair Begg nos ajuda a entender o livro de Efésios da seguinte maneira:
“Os 3 primeiros capítulos enfatizam o que significa estar em Cristo. Já os últimos 3 enfatizam o que significa estar em Cristo em Éfeso”. (Alistair Begg)
Ou seja, ele diz que os 3 primeiros capítulos tratam de como um cristão deve viver, em Cristo, diante da situação em que ele se encontra.
Com isso aprendemos que, por causa do que Cristo realizou, você pode, nessa pandemia, viver como um membro da família de Deus.
Paulo gasta metade do seu livro estabelecendo a base para que você possa aplicá-la em seu dia-a-dia. Tudo o que será dito em relação a como devemos viver e o que devemos fazer é praticamente inútil e inócuo se os primeiros 3 capítulos de Efésios não tiverem valor para você.
Paulo começa o Livro de Efésios com um poema descrevendo a obra da Trindade na salvação do Seu povo. Deus Pai nos escolhe antes da fundação do mundo, em Cristo, e através de Seu sacrifício em nosso favor, nos sela com o Seu Santo Espírito, o qual é o penhor da nossa herança.
Paulo louva a Deus por isso em seu poema inicial, o que nos serve de exemplo em todos os momentos, dentro e fora da pandemia. Desde a eternidade, Deus decidiu escolher e abençoar um povo da aliança que fez com Abraão e se consumou em Cristo.
Desta forma todo o cristão se torna membro da família da aliança de Deus, da qual Cristo é o primogênito, o nosso irmão mais velho.
Por meio de Cristo, todos, judeus e gregos, podem tornar-se filhos de Deus, irmãos uns dos outros, membros da família do próprio Deus.
“Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade,
para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado.” (Efésios 1.4-6)
No segundo capítulo, Paulo nos ensina como a graça de Deus nos resgatou do nosso estado:
“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. (Efésios 2.1–3)
Note a mudança que ocorreu conosco por conta da obra divina:
“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo. (Efésios 2.4–5)
Esta salvação, proporcionada por Cristo, nos tornou membros da família de Deus. Já não há mais separação, divisão ou diferença entre o povo de Deus e os gentios. Deus uniu a todos, em Cristo. Este é o assunto que Paulo aborda no final do capítulo 2 e também no capítulo 3.
Mas essa unidade, encontrada em Cristo, não é o mesmo que uniformidade. Em Cristo somos um, porém, em Cristo, também, somos únicos. Cada um de nós tem seus dons e chamado específico dentro da obra de Deus.
Somos, cada um, parte do templo de Deus e membros do corpo de Cristo. Cada um de nós, em Cristo, tem um papel e função, e cada função é dada pelo próprio Espírito Santo de Deus.
É somente ao final desta explicação sobre o que é o evangelho, sobre o que Deus fez, por nós, em Cristo e o nosso chamado e vocação, que Paulo fundamenta todo o resto da sua carta.
É com base nesses princípios e acontecimentos é que Paulo estabelece, para nós, a maneira que podemos e devemos viver em Cristo. Somente à luz destas verdades estabelecidas sobre o evangelho é que podemos aplicar todo o resto do livro que Paulo nos dá.
Portanto, é assim que Paulo começa o capítulo 4,
“… peço-vos que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados” (Efésios 4.1)
Tendo demonstrado o porquê, Paulo nos ensina agora o como.
Aprendemos que, agora que estamos em Cristo, devemos andar e viver…
“com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; (Efésios 4.2–3).
Durante todo esse capítulo 4 de Efésios, Paulo nos aponta como deve ser o proceder cristão. Por isso ele diz:
“… que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,
obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração,
os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza.” (Efésios 4.17-19).
Mas lembre-se de que Paulo nos lembra, novamente, de que isso só é possível…
“se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus” (Efésios 4.21).
Se você não está em Cristo, é impossível agradar a Deus. Sem Cristo, você permanece morto em seus delitos e pecados. Sem Cristo, o como você vive não vale nada para que você possa garantir algum favor ou merecer alguma coisa da parte de Deus.
Porém, se a graça de Deus já alcançou você, se já se arrependeu dos seus pecados e obteve a salvação em Cristo, então o seu proceder, a sua atitude, devem ser diferentes.
Deve haver uma série contínua de abandono e substituição. Onde havia mentira, deve haver a verdade. Onde havia a ira, deve haver paz. Onde havia o roubo, deve haver um trabalho que leve à generosidade. Onde havia fofoca, deve haver encorajamento. E assim por diante.
Durante esse vendaval pelo qual estamos passando, chamado pandemia, devemos nos perguntar novamente: qual é o aroma do meu lar? Vimos que o lar é muito mais do que uma casa, pois é ali que vive a minha família. E essa família está sofrendo, seus membros estão se chocando e se enroscando. Já que nenhuma família está isenta disso, o que devo fazer?
A resposta está na Palavra de Deus. Nós vimos que por causa do que Cristo fez por mim, agora sou um membro da família de Deus, tendo em Jesus o meu irmão mais velho. Fui resgatado pela graça e recebi a vida eterna.
Agora, mesmo sendo um em Cristo com os meus irmãos, recebi um dom que é único.
Deus me chama para o seu trabalho e me ensina como devo viver para Ele, com uma vida transformada, encontrando, assim, a verdadeira felicidade.
Aproveite esse período de pandemia e dedique mais tempo de comunhão com o seu Senhor. Leia a Bíblia, estude-a. Reserve um tempo para a oração, fique a sós com Deus. Tenha conversas edificantes com os seus familiares. Assista vídeos que inspiram a sua vida cristã.
No estudo de hoje vimos o que Deus fez por nós, em Cristo. Essa primeira parte do livro de Efésios nos explicou o que é, de fato, o evangelho.
Na próxima semana estarei de volta com você, estudando a segunda parte desse precioso livro. Iremos refletir, juntos, sobre o que eu faço, como ajo e a pessoa que me tornei por causa daquilo que Cristo fez por mim. Até lá.
Gostou desse texto sobre as relações familiares durante a pandemia?
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